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Recordações que nos fazem chorar - por Marli Terezinha Andrucho Boldori

14 set 2019 às 13:52
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Na tarde de ontem uma senhora, a qual já é minha freguesa de roupas, que doo a ela e aos filhos, veio saber se eu tinha mais alguma peça, pois ela, às vezes consegue vender algumas para juntar um dinheirinho a mais.

A filha adolescente veio junto, uma menina muito bonita que se bem cuidada seria uma princesa. Ela me contou que no final de semana haveria uma festa no salão do colégio para uma confraternização da turma, porque os alunos iriam para outros colégios e outros ficariam sem estudar.

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Percebi que ela estava querendo me dizer mais com a sua história, e por isso lhe perguntei:-

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-E você está animada com a festa?

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Ela ergueu seus lindo olhos cor de mel, e me respondeu:


- Eu gostaria muito de ir, mas nem sapatos eu tenho, pois a mãe só compra tênis, que serve para a escola e outros lugares, mas para uma festa não. As meninas estão se preparando há muito tempo, por isso, nem penso mais no assunto.

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Olhei para a mãe dela, que estava de cabeça baixa, estava com vergonha do que a filha me contou. Acabei ficando sem graça e lhe disse que iria tentar ajudar, pedi a ela que passasse em minha casa no dia seguinte.


Fiz o impossível para conseguir algumas roupas e sapatos, como não tenho filhos adolescentes, procurei uma amiga que tem duas meninas da mesma idade dela. Minha amiga ouviu a história e se comoveu, assim como eu. Acabei trazendo muitas roupas para a garota.

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Na hora marcada ela chegou em minha casa. Mostrei um lindo sapato, ela vibrou de alegria, aí fomos vendo as roupas. Tudo ficou maravilhoso, então pedi a ela, que no dia da festa viesse pronta para darmos um jeito no cabelo. Assim, no dia da festa ela veio com a mãe, estava mais linda do que eu havia suposto que ficaria. O cabelo um pouco amarrado para aparecer os brincos. Olhei a imagem dela refletida no espelho e minha mente viajou para uns anos antes, dizem que devemos controlar nossas emoções, mas nem sempre conseguimos, as lágrimas rolaram intensamente sobre o meu rosto, chorei e soluçando pedi desculpas e um tempo para me recompor. Ela me perguntou o porquê do meu choro tão sentido?


E, já mais calma e sem chorar contei a história, que naquele momento voltara em minha memória.

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Eu fazia o curso de magistério e a formatura era organizada durante os anos em que fazíamos o curso, havia uma mensalidade para os gastos do dia da formatura, mas nestes gastos não entravam vestido, sapato, acessórios e arrumação de cabelo. A formatura era muito bem planejada, pois é um curso do qual saímos com diploma e já podemos lecionar, depois de quatro anos somos professoras, o curso superior vem após, mas muitas já estão trabalhando em escolas.


No dia marcado, haveria missa e, em seguida a colação de grau, quando o pai acompanhava a sua filha. E lembro como se fosse hoje, uma colega chorando na porta da igreja, quando ela chegou com o pai, estávamos nos organizando para entrar na igreja em fila, e cada uma acompanhada pelo pai ou pela mãe. Quando ela viu que todas estavam bem arrumadas, e todas calçando sapatos pretos, ela soluçava, as nossas professoras foram tentar ajudar, mas não houve jeito, e nem dava mais tempo para nada, ela e o pai estavam de chinelos de dedo. Estavam bem arrumados, mas não tinham sapatos, quem sabe se ela tivesse nos falado ou confiado em alguma colega, tudo estaria arranjado, mas infelizmente o final foi triste, ela não quis entrar. Recebeu o seu diploma em outro dia, na Escola.
Este fato abalou a todos que ali estavam, jamais esqueci deste dia.


Quem sabe se ela confiasse e aceitasse que outra pessoa arrumasse o sapato para ela, tudo ficaria bem. Sei que ela se formou e estava lecionando, mas nunca mais a vi. Ainda me dói na alma o que senti naquele dia da minha formatura. Éramos em duas grandes turmas e todas ficaram sabendo do ocorrido e tudo seria diferente se ela tivesse um par de sapatos, foi lamentável.


Marli Terezinha Andrucho Boldori nasceu em União da Vitória, Paraná, graduou-se na FAFI/UNESPAR, União da Vitória, em Letras/Inglês e pós graduou-se em Produção de Textos pela FAFI/UNESPAR.
Acadêmica da ALVI, Academia de Letras do Vale do Iguaçu de União da Vitória.
Acadêmica da AVIPAF, Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia.
Colunista do Jornal Caiçara de União da Vitória.
Lançou os livros" Pensando a Vida" e
"A Magia do Amor".
Tem participação em 13 livros de Antologia.


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