Poema de Daniel Maurício em memória do Holocausto.
Yom Hashoah
No fio de arame farpado
A vida por um fio
Fugia feito um pássaro assustado.
No fio gelado da cerca de arame farpado
O vento soprava doído
E nem de longe lembrava,
O som da flauta doce
Que o menino inocente tocava escondido.
Soprava o vento...
Mas a ferida aberta no peito
Dos milhões enclausurados,
Ninguém soprava,
Ninguém via,
Ninguém se importava.
É, ninguém soprava a dor
Que pousava feito urubu
Na terrível cerca de arame farpado.
E assim, a vida era deixada de lado.
Pois no fio de arame farpado
A carne magra ficava exposta
De sol a sol, de lua a lua
Um enfeitado e sinistro varal
De esfarrapados pijamas listrados.
Os fios de arame farpado
Pareciam dentes famintos afiados
Ávidos pelas peles ressequidas de fome
E eternamente pelo ódio marcadas.
É...
Nas cercas de arame farpado
As estrelas amarelas não brilhavam
Mas nos corações,
Ah, como brilhavam!
E a esperança mesmo titubeante
Como a chama de uma vela ao vento
Balançava, não no fio de arame farpado,
Mas sim,
Disfarçada nos olhos quase sem brilhos.
Mas um dia,
Os gritos, os silêncios,
As preces, os cânticos,
As cinzas, os corpos,
As lágrimas e os sangues derramados
Encheram o cálice celeste.
E a salvação chegou com alarido
Calando a voz do opressor
No fio de arame farpado.
Daniel Mauricio
Fotografia da Wikipédia: Este trabalho foi lançado em domínio público por seu autor, o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, cortesia do Arquivo do Estado de Documentário e Fotografia da Bielorrússia. Isso se aplica em todo o mundo.