O autor inicia seu livro "Segredos Poéticos" com um poema mínimo, mas de máxima beleza: "Se um dia tiver que tomar atalhos na minha vida, que sejam entre flores".
Esse poema revela um pouco da atitude de Mhario Lincoln: o sorriso fácil, a tendência a ajudar e elogiar as pessoas, o sentimento de bem com a vida. Mas, sua poesia não é carente de reflexão. Mhario sabe abordar os grandes questionamentos da vida. Em "A beleza da alma", aborda um assunto que inquieta não só os poetas, mas os artistas, os filósofos e os cientistas – esse assunto é o tempo. Nas palavras de Kant "o tempo e o espaço são a priori de nossa sensibilidade". A vida humana acontece no tempo.
Na segunda estrofe desse poema o autor consegue, empregando poucas palavras, elaborar um mosaico que engloba o passado, o presente e o futuro, ou seja, as três divisões do tempo:
Eu tenho o ontem. O hoje é apressado.
Mas quem sabe não seja o meu passado,
e no o presente, tão rápido e impreciso,
que me leve a um futuro transcendente?
Essa inquietude com o tempo também se revela em "Ode a Pandora", onde inicia com a pergunta: E a curiosidade, como vai? Viaja no tempo. No caso de Pandora, veja o que lhe envolveu sobre a sua caixa, que não lhe caberia abrir.
Em "Morrer Poetando" novamente a alusão ao tempo: "E se um dia eu vier a morrer poetando, que seja breve."
Em "Saudades? Que Nada!", Mhario nos oferece uma bela metáfora:
Vede as árvores como balançam:
é o sopro dela apagando as velinhas
do tempo.
E ficamos nos perguntando se são as velinhas do tempo ido ou se nesse passar das horas, o autor está unindo as velinhas da saudade com as velinhas do passado-presente-futuro, as velinhas de toda uma vida.
No próximo, "Morte por amor", Mhario faz um jogo com o poema anterior usando a palavra "vela". No poema "Saudades? Que Nada!", o autor usa vela no sentido de círio. Em "Morte por Amor", usa a mesma palavra no sentido embarcação:
Velas do passado,
Caravelas ao março
Mergulho fracassado
De nunca aprender a amar.
Se o tempo transcorre e inquieta a alma de Mhario Lincoln, o amor também é um assunto que o comove e o surpreende. Em "Pros Infernos!..." ele pondera que não é possível falar de um ex-amor sem emoção. Mas é surpreendente quando alguém consegue isso. E essa surpresa não é um acontecimento alegre, mas uma reação emparentada com o pasmo, com o espanto. O autor consegue confabular com o leitor, que também permanece com a sensação que o ex-amor desperta, emoções – sejam de saudades, carinho ou ódio. Mas é estranho falar friamente do ex-amor.
O livro está dividido em quatro partes: a primeira parte é Poesia; a segunda Quadras (na sua maioria com alguns quintetos e tercetos); a terceira, tem o título de Caderno de Frases, e na quarta apresentam-se fotos e frases. No conjunto, o livro induz o leitor a vasculhar e compreender a alma do poeta.
Isabel Furini é poetisa, professora e escritora. Tem trabalhos publicados no Brasil, Argentina, Espanha e Chile.