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Metáforas de Liberdade (por Joana Rolim)

11 mai 2015 às 15:48
- Quadro de Carlos Zemek.
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Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último verso de um poema que escrevi: 'A escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse. Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre o tempo, que dá cara aos momentos, me esboçou o passado: plantava-se no coração dos jovens o idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil, aldeia fechada, que nos fechava também. Desmistifiquei obstáculos que impediam essas sementes de crescer. E tenho muito a aprender. Não sabia se elas venceriam. Meus textos foram meu diário. Eu vi um botão em cada texto escrito, e nas minhas poesias em particular. Foi nelas que aprendi a fazer metáforas. A realidade se sobrepôs, e as metáforas se transformaram em arte. Jornada difícil. Aventura de vida. A metáfora na vida. Entendi.

Liberdade tem Beleza, Elegância, Perfeição e Disciplina. Como o Universo.

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Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do Mito). Toda a ânsia do Ser em criar uma ligação com o Universo. Um exemplo de Mito. Mexeu comigo. O mito e a expressão brilhante de seu olhar enquanto falava.
"Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem, nua, deitada no chão. A jovem feliz. Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim. Viveriam a sua verdade. No sexto, a cabana desaba. Mortos, assados, comidos.'

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Ainda na entrevista:
Repórter ─ O mito é mentira!
Campbell ─ O mito é metáfora.
Repórter ─ O mito é mentira!
O escritor de repente compreendeu que o repórter não sabia o que era uma metáfora. Também questionou os mitos de hoje: Quais são nossos mitos? O mercado? Isso até 1987. De lá pra cá muita coisa, sutil e velozmente, aconteceu.

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Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se referia ao Brasil.
Não era assim. Lembro-me das letras destacadas e inflamadas de entusiasmo -Brasil - nas camisas - verde - amarela - dos atletas. Eles representavam o Brasil. Tinham consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma sensação estranha.
O detalhe na camisa me marcou. Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado. Depois entendi que ele vibrava pelo mito em si. Este acabou. Outros não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos atuais?
De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem.

Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava. Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidade! Disciplina! Faltou garra! Não pode deixar de receber a bola! O que é essa indecisão! Isso é levantamento? Que tática!? Brasil! De repente um grande movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisão! Mais potência na luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados! E a derrota. Não eram livres para a vitória.


Suas palavras eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado.

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Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo?
Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e desfazem seguidores, que distribuem medalhas e que criam suas próprias metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais. Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação.


Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! (...)


Publicado com autorização de Joana Rolim.

Joana Rolim é Licenciada em Letras (Línguas Neo-latinas – Pontifícia Universidade Católica do Paraná), escritora e poeta.


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