Falando de Literatura

Mailson Furtado Viana entrevistado por Isabel Furini

10 ago 2020 às 09:46

Nosso entrevistado é Mailson Furtado Viana. Cearense. É autor, dentre outras obras, de à cidade, obra independente vencedora do Prêmio Jabuti 2018 - categoria Poesia e livro do Ano. Em Varjota|CE, cidade onde sempre viveu, fundou a CIA teatral Criando Arte, em atividades desde 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, além de produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Graduado em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará, possui obras publicadas em jornais, revistas e antologias no Brasil, Portugal e França e mais de 10 textos encenados no teatro

1) Quando começou a escrever poesia?


Meu descobrir da poesia veio com a música, na vontade de ser um compositor, ainda na adolescência por volta dos 13 anos. Como na época não possuía qualquer aptidão para instrumentista, muitos dos escritos começaram a convergir para o que comecei a chamar de poesia, textos muito amadores, mas que me abriram caminhos para o entendimento ou desentendimento da literatura.


2) Quais assuntos aborda em seus livros?
Cada livro possui sua proposta e por conseguinte temáticas diversas. O à cidade vem abordar de forma mais profunda o sertão, o interior do país, a vida pulsante de pequenos lugares tão não-ditos desse Brasil. Tantos Nós, uma dramaturgia publicada neste 2020, vem narrar a vida juvenil a partir do fazer artístico numa pequena cidade sertaneja. O poema-livro ele aborda a vida de um homem que nem se sabe, inteiramente inerte à sua própria existência. Já Passeio pelas ruas de mim é bem plural e encontra diversas experimentações poéticas. Enfim, a cada trabalho permito-me liberdade de novos caminhos, e assim cada um ganha suas próprias possibilidades de ser.


3) Quais livros e autores foram essenciais na sua formação como leitor e escritor?
Minha primeira grande influência na literatura foi Paulo Leminski, a partir dele outras obras a me marcarem. Registro todo o ‘movimento’ da poesia marginal, a geração beat, a poesia popular nordestina, e os hoje, já clássicos, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, além de nome contemporâneos, como Gonçalo Tavares, Wislawa Szymborska. Quanto a livros específicos gostaria de citar três fundamentais: 1984 de George Orwell, Cem anos de solidão de Gabriel García Marquez e Parabélum de Gilmar de Carvalho.


4) Mailson, você é poeta, ator, escritor, …. mas, se fosse obrigado a escolher só uma dessas atividades, qual escolheria?
Todas se complementam, não seria o autor que me tornei sem o teatro, e vice-versa. Acredito na arte de forma ampliada e híbrida, e assim a desejo carregar.


5) Você se sente mais confortável escrevendo obras de teatro, atuando no palco, ou dirigindo uma peça?
No teatro, numa percepção pessoal, acho que sou mais útil na função de direção. Gosto muito de enxergar o processo de uma forma mais ampla, e a partir provocar o elenco, o projeto, o texto a tantas possibilidades.


6) García Márquez gostava de ter uma rosa amarela no local onde escrevia. Você tem algum ritual para começar a escrever?
Não, não. Meu processo criativo é muito espontâneo e sem qualquer ritual, visto eu não me forçar na busca de determinada temática, e a grande maioria do poemas acontece de forma natural. No entanto, no momento que algum esboço poético surge na mente, reservo-me totalmente à experiência, negando qualquer coisa ou compromisso que possa comprometê-la.


7) Pode falar um pouco sobre o seu livro que ganhou do Jabuti?
à cidade traz elementos geográficos, históricos, sociológicos, políticos, físicos, metafísicos, folcloristas, genealógicos. É um livro-poema de fôlego que vem apresentar de forma contemporânea uma visão de uma cidade do sertão, ainda com tanto e tanto por dizer, com plano de fundo para aquelas banhadas ou mudadas indiretamente pelo caminhar do Rio Acaraú na Zona Norte do estado cearense.


8) O Jabuti é considerado o maior prêmio brasileiro da área de Literatura, depois de ganhar esse prêmio seus livros venderam mais? Esse prêmio mudou a sua vida?
Sem a menor dúvida. O prêmio amplificou a minha obra a todo cenário nacional, antes restrita somente ao Ceará (e nem por completo). Possibilitou-me a realizar um imenso intercâmbio por todo o Brasil, em palestras, eventos, lançamentos, inclusive no exterior. Assim, após toda a repercussão, tive literalmente que aprender a vender e distribuir livros, e hoje consigo estar com alguns títulos em livrarias de algumas regiões do país, sites e também a partir de pedidos diretamente comigo via mídias sociais.



9) Os seus leitores tem um perfil determinado? Você escreve para um público-alvo?
Não, não. Não seria uma preocupação minha a definição de um perfil de leitores. Mas creio que por motivos estéticos o público que mais se identifique sejam adultos. Muito embora, tenha tido muito retorno dentro de escolas desde o ensino infantil até ensino médio.


10) Fale um pouco de seus projetos para o próximo ano.
Na verdade falarei de alguns projetos que estão em andamento, visto neste primeiro semestre de 2020, ter lançado dois títulos, ambos em processo de divulgação: Tantos Nós, uma dramaturgia a narrar a vida de jovens no sertão nordestino; e o poema-livro ele que traz a epopeia de um homem ‘sem-história’ marcado por nem se conhecer. Em 2021, creio que publicarei um compilado de poemas revisitados de meus dois primeiros livros de poesia, Sortimento e Versos Pingados, a se chamar Nômade, no entanto ainda um projeto de edição.


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