Falando de Literatura

Eu não sou Christian Grey (de 50 Tons de Cinza) por Robson Lima

31 mar 2015 às 20:26

Nós, homens, desde a infância somos chamados a sermos fortes, bons pais, bons maridos, bons genros, bons para os amigos (as) da esposa, temos que ser bons de cama, pagamos mais caro na entrada de bares, pagamos seguros mais caros, amamos as mulheres e, além disso, morremos mais cedo, mas não precisamos ser Christian Grey.

O cinema americano inventou para as adolescentes e para mulheres adolescentes um outro tipo de homem: o homem Christian Gray. Um homem que fora da cama não é capaz de existir.
Não, não é despeito. É apenas uma opinião. Acho muito fácil ser um Grey na vida de uma mulher. Ele não se preocupa com dinheiro, não se preocupa com a febre de um filho, não planeja viagens de verão, não acompanha o boletim das crianças, não envelhece, não enche a cara de vez em quando, não cuida de uma esposa doente e não quer saber do dia seguinte. É um ser de uma ou duas noites. O lado oposto de um vampiro que, pelo menos, é apaixonado e eterno (terno?).


Esse personagem supre uma lacuna no imaginário feminino. Ele é bonito, viril, rico, sádico e .... Mais nada. Ele não passa de uma masturbação. Dura minutos e logo passa. Um namorado, noivo ou marido não são uma masturbação. São relacionamentos que envolvem muito mais do que cama.


Um relacionamento precisa de história, memória, trilha sonora... Sexo é importante, mas é uma relação e não um relacionamento.Qualquer um pode ter uma relação. Até os animais as têm com pouco ou mais agressividade, mas relacionamento é algo humano e requer maestria.
Não imagino um Romeo Christian Grey... Não imagino um Chistian Grey ninando um bebê e chorando ao ver o sorriso nos lábios de um filho. Não imagino um Grey cuidando da esposa em um hospital ou fazendo um churrasco para o sogro, tentando agradar. Greys não agradam senão a si mesmos.


Alguém pode dizer: "Mas ele é um homem com o qual toda a mulher sonha!". Bem, discordo. Há, sim, mulheres que sonham em ser mais uma de mais um. Mulheres que largam até sua família por minutos de relação. Mas há mulheres que preferem relacionamentos, uma história a dois. E essas mulheres são a maioria.


Há um filme do qual gosto muito, chamado: A história de nós dois. Nesse filme, um casal, interpretado por Bruce Willis e Michelle Pfeiffer, leva seus filhos para uma colônia de férias e enquanto as crianças ficam fora e se divertem, eles correm com os papéis do divórcio.
Sim, eles estão se separando. Terminando um relacionamento (história, memória, filhos, trilha sonora) . Willis não é Grey e ela precisa de algo mais.


Tudo acertado com o divórcio e eles precisam pegar as crianças na colônia de férias para contar a "novidade". Bruce pergunta a Michelle se ela prefere contar para as crianças em casa ou se prefere contar em um fast food chamado Chow Fun´s. Michelle acha melhor contar para as crianças em casa para evitar exposição pública da dor.
Uma vez as crianças no carro, o casal decide onde ir...
Bem, o resto deixarei vocês assistirem.


50 tons de cinza pode ser a sensação do carnaval, mas, como todo o carnaval e toda a masturbação, ele passa e o que fica são as pessoas com quem estabelecemos relacionamentos. Essas, sim, merecem todos os nossos 50 tons de sims


Um excelente carnaval a todos os que entendem que amar vai muito além da cama e que histórias de amor não acontecem todo o dia. Os que um dia jogaram um amor pela janela sabem do que estou falando e sabem do que eu sei: Eu não sou Chistian Grey.


Professor Robson Lima.

Robson Luiz Rodrigues de Lima: Curitibano, Professor de Língua Portuguesa, Literatura, Leitura de Múltiplas Linguagens e um estudioso da poesia paranaense. Autor de livros didáticos, consultor educacional, assessor pedagógico nas áreas de Linguagens e Comunicação, palestrante em todo o território nacional, poeta, músico, declamador, ator, transador de palavras, amante dos versos, artes e artemanhas.


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