Tenho uma prática de escrita que gosto bastante, que consiste em escrever de início um texto em prosa e depois transformo-o em poema. Como neste caso, por exemplo:
A prosa:
Desabafos & bafões
Tem um momento da vida em que nos perguntamos o porquê de ainda acreditarmos no "amor”...
São tantas decepções somadas e somatizadas que parece até que a ferida sempre esteve ali. Apenas estava oculta por uma "grossa casca”, que abre-se novamente e expõe toda a dor esquecida
E dela esvai mais um pouco da esperança de encontrar "aquela pessoa” que te fará sentir-se especial, amada de verdade
Não há como sabermos quem é o outro realmente. Apenas exaltamos e idealizamos algumas características, talvez para satisfazer nosso desejo de suprir essa espera
Mas chega a hora.
Chega o inevitável momento em que a gente cansa
Cansa de ser tão sonhadora.
Cansa de acreditar no amor.
Cansa de fazer papel de trouxa, acreditando em mentiras elaboradas de quem apenas quer prazer momentâneo.
Cansa de se entregar, de desnudar a alma para quem não nos valoriza.
Cansa de se doar emocionalmente, sem reciprocidade.
E assim, é mais um coração que "deixa de bater” é mais uma alma romântica que morre.
O enterro? Não haverá.
Os restos mortais ficarão expostos e apodrecerão lentamente, à vista de todos.
Pra afugentar mesmo
Arte digital de Isabel Furini
A poesia:
O ÚLTIMO CORAÇÃO ROMÂNTICO
Um último golpe
Derradeiro, letal...
Planejado com precisão
Acertou em cheio o alvo
Matando a última ilusão
Sonho oculto, um ideal
Que resistira até então
Morte lenta, agonizante
D'algo que seria imortal
Da ferida esvaía o pecado
Junto dele toda a culpa,
D'um ato nada acidental
Tudo estava terminado
Um coração jazia, inerte
Frio, lenta decomposição
Triste fim, traumatizante
Sua sina a outros adverte
Sobre sandices da paixão.
Fétida, a carne fica ao relento
Onde ardia calor, agora há gelo
Por não ter o sonhado alento
O amor antes tão exuberante
Agora é um amargo pesadelo.
Elciana Goedert (Ciça)
Curitiba - PR
AVIPAF – Cadeira 20 Patrona: Florbela Espanca