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Desabafos&bafões - por Elciana Goedert

17 jul 2020 às 10:39

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Tenho uma prática de escrita que gosto bastante, que consiste em escrever de início um texto em prosa e depois transformo-o em poema. Como neste caso, por exemplo:

A prosa:

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Desabafos & bafões

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Tem um momento da vida em que nos perguntamos o porquê de ainda acreditarmos no "amor”...

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São tantas decepções somadas e somatizadas que parece até que a ferida sempre esteve ali. Apenas estava oculta por uma "grossa casca”, que abre-se novamente e expõe toda a dor esquecida…


E dela esvai mais um pouco da esperança de encontrar "aquela pessoa” que te fará sentir-se especial, amada de verdade…

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Não há como sabermos quem é o outro realmente. Apenas exaltamos e idealizamos algumas características, talvez para satisfazer nosso desejo de suprir essa espera…


Mas… chega a hora.

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Chega o inevitável momento em que a gente cansa…


Cansa de ser tão sonhadora.

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Cansa de acreditar no amor.


Cansa de fazer papel de trouxa, acreditando em mentiras elaboradas de quem apenas quer prazer momentâneo.

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Cansa de se entregar, de desnudar a alma para quem não nos valoriza.


Cansa de se doar emocionalmente, sem reciprocidade.

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E assim, é mais um coração que "deixa de bater”… é mais uma alma romântica que morre.


O enterro? Não haverá.


Os restos mortais ficarão expostos e apodrecerão lentamente, à vista de todos.


Pra afugentar mesmo…



Arte digital de Isabel Furini



A poesia:


O ÚLTIMO CORAÇÃO ROMÂNTICO

Um último golpe
Derradeiro, letal...
Planejado com precisão
Acertou em cheio o alvo
Matando a última ilusão


Sonho oculto, um ideal
Que resistira até então
Morte lenta, agonizante
D'algo que seria imortal


Da ferida esvaía o pecado
Junto dele toda a culpa,
D'um ato nada acidental


Tudo estava terminado
Um coração jazia, inerte
Frio, lenta decomposição


Triste fim, traumatizante
Sua sina a outros adverte
Sobre sandices da paixão.


Fétida, a carne fica ao relento
Onde ardia calor, agora há gelo


Por não ter o sonhado alento
O amor antes tão exuberante
Agora é um amargo pesadelo.

Elciana Goedert (Ciça)
Curitiba - PR
AVIPAF – Cadeira 20 Patrona: Florbela Espanca


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