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Dentro do Nadir habita o Zênite - livro de Jean Narciso Bispo Moura

20 jun 2020 às 11:09

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Um ponto de encontro que explora os limites do corpo e repertórios imagéticos de uma precisão concisa

Por Mariana Silveira

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A mais nova obra de Jean Narciso Bispo Moura, Dentro de nadir habita o zênite, incorpora uma poesia de atritos entre o orgânico fluir da vida e as revelações dos sentimentos de desolamento através de uma lente contemporânea.
Trata-se de um conjunto de poemas para se ler paulatinamente. Se Nietzsche escreveu seus aforismas explorando o máximo deste gênero constituído de breves máximas filosóficas, Jean eterniza suas imagens explorando a forma oética em toda sua amplitude, deixando uma sensação de que Dioniso se rendeu à precisão poética apolínea.

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Pensando em suas obras anteriores como "Retratos Imateriais” e "Psicologia do Efêmero”, o poeta continua a perseguir as manifestações do corpo em toda a poesia das cenas da vida cotidiana, tendo esta um toque surreal. Tal poetização do mundo-corpo revela um flerte sutil com a poesia do baixo corporal, revelando um sobrevoo entre o popular e o hermético, criando assim uma dança de imagens inspiradoras. Ao longo da leitura, as tensões entre a força interior e o mundo exterior ganham tons variados de uma melancolia insistente. Poemas como "elefante”, "rumor”, "touro mental” e "renitente” mostram parte desta esfera soturna e perfeita para a poesia potente de Jean.

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O poeta também cria uma religiosidade peculiar, orações para os deuses que gostam de poesia, de modo a estabelecer uma conexão direta com o celestial que age através da sua observação de mundo. Em "páginas fumadas”, notamos uma certa inquietação com o ato de rezar, em que se observa uma retidão em relação ao autor e pastor português João Ferreira de Almeida. Já em "fervorosa oração”, sentimos um eu-poético que anuncia a sua revolta, revelando também um desejo de iluminação aos poetas que ainda não descobriram a sua força. A influência do mundo digital não escapa da agudeza de Jean. Podemos ver em "ser periclitante” e "aglomeração”, as mazelas causadas pelas mídias, smartphones e redes sociais, que na visão do poeta causam um amortizar da poesia em todo esplendor de suas imagens e, consequentemente, da vitalidade humana.

Se pudermos sintetizar o esplendor desta obra, o título nos ajuda neste aspecto. Sendo nadir a linha imaginária inferior em relação ao observador na superfície da Terra, tendo como parâmetro a esfera celeste, e também uma palavra de origem árabe que significa "oposto a”, tem como seu complemento essencial o zênite, que é a linha que se constrói na esfera superior, estando diametralmente oposta ao nadir. Zênite também tem origem árabe e significa "estrada, caminho”. Logo, o jogo de olhares que se estabelece ao longo dos vários poemas do livro demonstra a inexorabilidade de uma existência pautada pela simetria dos opostos.

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A dimensão dos olhos e olhares oriundos de um poeta observador que se encontra nesta plena consciência de nadir e zênite é a mesma que produz uma poesia em que as imagens desfilam organicamente diante dos olhos, ao mesmo tempo em há um reconhecimento de pertencimento do eu-poético a cada singularidade metafórica engatada no tempo lírico.

Dentro de nadir habita o zênite é poesia reluzente em meio ao caos; um ponto de encontro que explora os limites do corpo e repertórios magéticos de uma precisão concisa.

Esta leitura nos permite surpreender com as possibilidades das imagens e da riqueza que envolve o trabalho do poeta.

MARIANA SILVEIRA é mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo. Concluiu o curso de pós- graduação Lato Sensu em Linguagens da Arte, no Centro Universitário Mariantonia da USP. Tem experiência na área de Semiótica, Literatura e Estudos Visuais, principalmente no que concerne análise das mídias. Participante do grupo de pesquisa "Palavra e Imagem em Pensamento”, também vinculado à PUC. Seu interesse acadêmico envolve fotografia, cinema, literatura e poéticas artísticas.


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