Resposta ao artigo do professor Robson Lima: "Reabertura da Feira do Poeta", publicado neste blog do Bonde, em 03/04/2015.
Ver: http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-31--10-20150403
Mesmo passada a hora escrevo esse artigo. Não tive oportunidade de escrevê-lo antes, mas creio ser importante fazê-lo agora. Estive presente na reabertura da Feira do Poeta e na manhã chuvosa e fria me emocionei com os versos, com as pessoas, com a cidade. Então me deparo com "artigo admonitório" do professor Robson e muitas coisas me vem à cabeça e ao coração, entre elas: o ranço elitista e pseudo intelectualóide que ainda mora em algumas cabeças curitibocas, que só podem mesmo ser comparadas aos zumbis. Não a marcha da zumbilândia famosa pela irreverência e humor, mas aos zumbis que esquecem que seu tempo passou e assombram com seu humor mórbido os que querem renovar, agregar e reacender a vida.
Diz o ilustre professor que tem medo que a feira remeta ao passado dos nossos grandes poetas!!! Medo de lembrar Leminski, Helena? Sério? Lembrar o passado, o maravilhoso passado desses nossos poetas nos impede de avançar para o futuro? É isso que ensinas professor?
Um grande nome que respeito e venero: nosso Waltel Branco (ops..nao vai dizer que sou zumbi porque Waltel, felizmente, ainda está entre nós) nos diz que não existe arte ruim, mas sim questão de gosto. Refere-se ele à música, obviamente.
Mas estendo aqui esse pensamento a todo tipo de arte. Onde foi que em nossa história, nos demos ao direito de dizer o que é belo, ou bom aos olhos dos outros?
Diagnosticar versos para quantificá-los, enquadrá-los nos critérios elitistas e excludentes da crítica autoritária em nome do que chama de poesia de qualidade, a troco do que mesmo? Quem estava lá para senão para ouvir e se emocionar? Até quando vamos alimentar a prepotência intelectual que vem denegrir um espaço de inclusão de artistas que podem vir de qualquer origem, que podem ter qualquer história? Que podem também ter sentimentos, sim sentimentos. Só zumbis não os têm.
O que é mediocridade, na visão desse professor? Os poemas do guarda da Guarda Municipal? Com que direito e propriedade vem admoestar em relação à qualidade intelectual e poética dos versos lidos lá?
Só se for com a autoridade dos zumbis, que só vem para atrapalhar. Que não agregam, só destroem.
A Feira do Poeta é uma conquista da cidade. Um espaço aberto que não julga, só acolhe.
Quer falar de estética, de beleza, de semiótica? Faça um seminário, me convide e vamos para o papo pernóstico da academia, que é bom também. Mas não na feirinha do Largo, não na Feira do Poeta. Não num lugar que é para abrir o coração, para ler versos, para congregar, para chorar rir e não para submeter-se aos julgamentos arrogantes e excludentes de uma pequena categoria de intelectuais da cidade que acha que arte é privilégio de poucos.
Que venham todos e todas com seus versos. Com suas rimas pobres ou não. Mas que venham com seu coração aberto, com sua poesia, com a sua arte.
Esqueçam as admoestações. Elas fazem parte de um passado autoritário, repressor, excludente e zumbi.
Vera Albuquerque
Curitibana, Editora – diretora da Editora Bolsa Nacional do Livro, escritora, poeta, consultora editorial, especialista em escrita e elaboração de material didático, mestranda em educação, criadora de projetos de formação para professores nos estados e municípios, coordenadora interina do Fórum das Entidades Culturais de Curitiba e PR.