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Entrevista Carlos Arruda, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) - Parte 1

24 nov 2025 às 06:00

Carlos Arruda também é professor associado da Fundação Dom Cabral e consultor associado da Cambridge Family Enterprise.Além de um dos maiores especialistas em inovação da América Latina, é um homem gentil e generoso.


1) Indicadores mostram um cenário preocupante para o Brasil em termos econômicos e de inovação. Dentre eles está a queda da renda per capta, com o país se aproximando cada vez mais da parte debaixo da tabela, e o ranking global de inovação, com melhora em relação a anos anteriores, mas ainda muito distante das nações desenvolvidas. Por que a inovação e o desenvolvimento econômico ainda patinam em nosso país?


Esta conexão entre inovação e desenvolvimento econômico é evidente, mas complexa. Veja o caso de países como Coreia do Sul, Singapura e mais recentemente a China onde está evidente que o crescimento da renda per capita no país diretamente associada aos investimentos em inovação. A China que este ano chegou ao 10º lugar no ranking do Global Innovation Index produzido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO) chega também a uma renda per capita (PPP) de $26.310. O Brasil que ocupa a 52ª posição no mesmo ranking – com perda de 2 posições em relação a 2024 – se apresenta com uma renda per capita (PPP) de $22.123. Alguns fatores são determinantes para esta posição do Brasil. Entre eles destacamos:


- Descontinuidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D): Embora o setor privado e o governo invistam em P&D, o montante ainda é insuficiente para colocar o Brasil em pé de igualdade com as nações desenvolvidas. Os investimentos em P&D no Brasil representam 1,7% do PIB enquanto que na China chegam a 2,58% e na Coreia do Sul a 4,96% (segundo o relatório de competividade do IMD de 2025). Além disso, os investimentos muitas vezes são concentrados em poucas áreas e não se traduzem em inovações de alto impacto.


- Ambiente de negócios desfavorável: O Brasil possui uma alta carga tributária, burocracia excessiva e leis trabalhistas complexas, o que dificulta a criação e o crescimento de empresas, especialmente startups. Esses fatores desencorajam o empreendedorismo e a inovação. No relatório de inovação global da WIPO o Brasil fica na posição 107 no bloco de indicadores que avaliam o ambiente de negócios ocupando apenas a 91ª posição na avaliação da qualidade das regras que impactam os negócios.


- Educação deficiente: A qualidade da educação no país, especialmente a básica, ainda deixa a desejar. A falta de foco em habilidades como pensamento crítico e resolução de problemas, que são essenciais para a inovação, prejudica a formação de talentos. No mais recente Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) realizado pela Organização para cooperação e desenvolvimento econômico OCDE o Brasil alcançou apenas a 64ª posição entre 81 países no ensino da matemática, 61º em ciências e 52º em leitura. Coreia do Sul 5º em leitura e ciências e 6º em matemática.


- Baixa integração entre universidade e indústria: Há um abismo entre o conhecimento gerado nas universidades e a sua aplicação prática no mercado. A falta de parcerias e a dificuldade de comercializar as inovações provenientes das pesquisas acadêmicas criam um gargalo no ciclo de inovação. No relatório de competitividade do iMD de 2025 o Brasil fica apenas na 65ª posição no indicador de transferência de conhecimento entre as universidades e empresas.


*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP).

Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups.

@professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)

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