Fadiga, dores pelo corpo, alterações no sono, ansiedade e depressão. Quando a fibromialgia vem à tona, muitos são os sintomas e o diagnóstico nem sempre é preciso. E é aí que começa a rotina nômade, de muitos pacientes, de consultoriotratando os sintomas e não a causa da doença reumatológica que acomete, conforme estimativas, 3% da população brasileira, em sua maioria mulheres.
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Para Dr. Fábio Trevisan, médico especialista em Medicina da Dor pelo Hospital Sírio-Libanês e pela Harvard University, o olhar personalizado de um profissional que atua na área faz toda a diferença. “Hoje, o foco é a Medicina de Precisão, com um tratamento voltado a cada paciente”, acena.
Nesta entrevista ao Portal Bonde, Dr. Fábio, que em breve inaugura a nova sede do Instituto Trevisan, em Londrina, fala sobre esta doença invisível. Confira:
Fadiga crônica x fibromialgia
“É importante diferenciar a fadiga crônica da fibromialgia. A fibromialgia é uma síndrome que tem dois grandes pilares: a dor crônica difusa pelo corpo – existem 18 pontos dolorosos difusos pelo corpo -; e outros sintomas associados, como a sensação de cansaço físico contínuo, o sono não restaurador, transtornos relacionados com depressão e ansiedade, entre outros. Já a fadiga crônica não é uma doença e sim uma situação que o paciente pode estar vivendo, caracterizada pela falta de energia acentuada: aquele paciente que está o tempo todo cansado, sem energia, mas que não tem outros sintomas associados. Embora parecidas, elas são situações diferentes.”
Brasil x mundo
“Estudos recentes indicam que a fibromialgia acomete de 2 a 22% da população mundial. No Brasil, a prevalência da doença varia entre 2,5 a 5% da população. Os números mundiais são mais elevados por conta da facilidade de diagnóstico em outros países em relação ao Brasil. E esse acaba sendo o grande problema da fibromialgia, que é muito comum, predomina entre mulheres, na faixa etária dos 20 a 40 anos, e muitas vezes não é diagnosticada.”
O diagnóstico
“Os critérios para o diagnóstico da fibromialgia são antigos, mas ainda assim atualmente a fibromialgia segue sendo uma doença pouco diagnosticada, pouco valorizada e muito mal conduzida pela maioria dos médicos e profissionais de saúde. Muitos sequer acreditam que a fibromialgia exista por ser uma doença de diagnóstico clínico. Não existe nenhum exame complementar, nem de imagem, nem de sangue, nem de urina, que apareça escrito no laudo fibromialgia. O paciente acaba peregrinando por vários profissionais e continua sintomático porque não está sendo feito o caminho correto de tratamento.”
Degeneração cognitiva
“A degeneração da fibromialgia talvez seja uma das piores que tem, porque a princípio é invisível, insidiosa, se instala sorrateiramente e é o que chamamos de degeneração cognitiva: os pacientes com fibromialgia que não são tratados corretamente têm, em muitos casos, o Fibro Fog, ou névoa no cérebro. Essa condição traz, como saldo, o déficit de atenção, a dificuldade de concentração, lapsos de memória e, com isso, a pessoa produz cada vez menos. Um relato comum de pacientes é que, se antes liam 20 páginas de um livro, hoje leem três e já se perdem. Essa degeneração cognitiva é muito intensa no paciente com fibromialgia.”
Com quem tratar?
“O que observo, na prática, é que o paciente com fibromialgia peregrina por vários profissionais de saúde, passando por vários tratatamentos, tratando sintomas, e vai cronificando, degenerando. Quem deveria tratar a fibromialgia é um médico especialista em dor e existe essa especilidade, que é a Medicina da Dor, dedicada à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da dor crônica, e minha especialidade. Recebo, em meu consulrório, muitos pacientes por procura direta e encaminhados de outros profissionais.”
O tratamento
“O tratamento é contínuo e divide-se em fases: existe o tratamento da fase aguda, para tirar o paciente daquele quadro de dor, e o tratamento de manutenção, para manter esse paciente sem dor. A fibromialgia não tem cura, mas tem controle, remissão. O paciente consegue viver muito bem, com sintomas reduzidos, e praticamente como se não tivesse dor. Não tratamos somente com remédios, a medicação é uma ‘pontinha’ nesse processo. Não há uma pílula mágica. A mudança do estilo de vida é essencial, com atividade física constante, alimentação anti-inflamatória, saúde do sono, com sono restaurador, e gerenciamento do estresse. Temos, também, os tratamentos intervencionistas, que são algumas técnicas, com equipamentos e terapias injetáveis com foco em reduzir as inflamações e estimular a parte mitocondrial, de energia do paciente, entre outros. Há um arsenal para este tratamento, mas não existe uma receita de bolo. Cada paciente é único.”
Jornada de transformação
“Costumo dizer que o tratamento da fibromialgia depende 50% do médico, do roteiro que traçamos aos pacientes, e os outros 50% do paciente, de ele seguir esse roteiro. Nossa obrigação, enquanto médicos, é ajudar o paciente em meio à essa jornada de transformação, para um dia a dia com mais qualidade de vida, mais autonomia e mais bem-estar.”