Beirada nipônica

Hiroshima fora do tempo

17 out 2010 às 06:26

Conheci um senhor de pouco mais de 65 anos enquanto esperava a hora do jogo. Chegamos cedo ao estádio e enquanto os jogadores faziam suas bandagens, massagens e outros preparativos, fui até a sala de espera e lá estava o senhor assistindo TV. Calmo, fala mansa e muito bem informado logo percebeu que sou estrangeiro.
Durante a curta conversa falamos de futebol, das aspirações das crianças japonesas, do Brasil, da economia e de Hiroshima. Sim, ele nasceu na cidade onde caiu uma das bombas atômicas. Sobreviveu porque correu para um abrigo subterrâneo mas perdeu todos os outros familiares. Diz que vagou sozinho por alguns anos sem entender direito as razões do que havia acontecido. Morou em abrigos coletivos, viveu o racionamento de alimentos e água, viu muita gente morta, machucada e queimada. Procurou seus pais e irmãos mas nunca os encontrou. Viveu só a partir desse dia.
Assim que pôde foi para o norte do Japão e pasados quase trinta anos retornou à Hiroshima para começar vida nova. Foi assim mesmo que ele me falou: "recomeçar uma vida nova". Meu espanto foi que essa frase, normalmente sai da boca de gente mais jovem, nunca esperei ouvir isso de alguém que já viveu tanto tempo. Ele me contou algumas histórias da época, da fome, da solidão e da vontade de recomeçar tudo novamente.
Falou tudo o que lembrava, numa espécie de desabafo. Disse que talvez a bomba tenha sido necessário porque o Japão caminhava para um rumo perigoso de isolamento, de prepotência, de corrupção, de patriotismo exacerbado.
Ouvi tudo calado e imaginei num espaço curto de alguns segundos tudo o que aquele senhor havia me falado. Não sei dizer se a bomba foi ou não necessário, mas resolvi parar para pensar um pouquinho mais sobre a situação.
Olhem o vídeo abaixo e me digam o que pensam.

Rosa de Hiroshima


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