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A matemática da vida em Fukushima

14 jun 2011 às 02:29
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Um minuto de silêncio em respeito às vítimas do terremoto depois de três meses da catástrofe. Lí inúmeras notícias falando a respeito e fotos da reconstrução. O que se tem de concreto é que muitas famílias não poderão mais viver como antes porque a irradiação não permitirá. Existe uma campanha para que a população das cidades atingidas voltem depois da reconstrução. Mas nada está garantido.
Em meio as incertezas, recebi de um grande amigo, um texto muito interessante que mostra um pouquinho da famosa solidariedade e filosofia nipônica. Transcrevo a essência do texto:

"Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros, que se ofereceram para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso trabalho: a manutenção da usina nuclear de Fukushima. Os reparos envolvem altos níveis de radioatividade cancerígina.
Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos negocia com o reticente governo japonês e a companhia, usa uma lógica tão simples quanto assombrosa. "Em média devo viver mais uns 15 anos. Já um câncer vindo da radiação levaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos temos menos riscos de desenvolver câncer", afirma Yamada.

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É arrepiante. Na contramão do individualismo atual - e lidando de uma maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte, - sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis em seus últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles com saúde e disposição semelhantes.

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O que mais impressiona em toda essa história é a matemática da vida. A morte não é para eles um problema a ser solucionado pela hipótese mística da vida eterna que medicina e biologia tentam encampar e da qual as revistas de saúde tentam nos convencer; a morte é, de fato, a constante da equação.
Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831) certa vez definiu "mestre" como alguém desapegado da vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto "servo" seria o escravo do desejo de continuar vivo e que obedeceria mais às regras que lhe garantissem a sobrevida. Em consequência, o servo anula sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.

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Criados numa sociedade de consumo corremos o risco de levar essa escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros enquando ainda gozamos dela. Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos continuar a existir na memória das pessoas - uma oportunidade que, para mim, eles não perdem mais".


Pois é, por aqui ainda tem gente assim. E agora José?


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