Anúncios de carros com condições de financiamentos convidativas e garantia de pronta entrega têm surgido neste início de ano. É um cenário bem diferente do vivido ao longo do segundo semestre de 2021, quando filas de espera e crédito mais caro se tornaram regra do mercado.
A Volkswagen, por exemplo, oferece o utilitário compacto T-Cross com "taxa zero". Na Citroën, campanhas seguidas impulsionam as vendas do C4 Cactus no varejo. As explicações para essas e outras ofertas estão na lei e nos números.
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Primeiro, a lei. As montadoras pediram e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) esticou por três meses o prazo para adequação de seus veículos a uma nova etapa da legislação ambiental.
A norma estabelecida pela sétima fase do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) previa que os automóveis leves produzidos a partir de 1º de janeiro deveriam emitir menos poluentes que os modelos feitos em 2021. Mas havia automóveis incompletos por falta de peças: sem a prorrogação, teriam de ser desmontados.
Dentro do possível, as fabricantes aceleraram a produção no fim de 2021. As férias coletivas foram atrasadas e dezembro registrou bom volume de produção.
O ritmo segue acelerado: esses carros precisam ser concluídos até 31 de março e vendidos até 30 de junho, e ainda há a montagem das linhas ano/modelo 2022/2022 e 2022/2023. Então entram os números.
Um recorte sobre o segmento de carros de passeio e comerciais leves mostra que janeiro registrou uma queda de 28,3% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2020. O dado é da Fenabrave (entidade que representa os distribuidores de veículos).
Fevereiro vai pelo mesmo caminho, com uma baixa de aproximadamente 25% até quinta (17) sobre igual período do ano passado, segundo o Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
De repente, algumas montadoras estão com um pequeno estoque de carros com prazo de validade para venda. E há a necessidade de abrir espaço para a linha adequada ao Proconve 7 -que precisa ser rentável para pagar os investimentos feitos na adequação à nova norma ambiental.
Foi essa busca por rentabilidade em tempos difíceis que fez as empresas apostarem mais no faturamento para a rede concessionária do que nas vendas a locadoras, que compram em lotes e negociam grandes descontos.
O varejo estava ávido por carros, e as filas de espera formadas em 2021 ainda não terminaram. Mas os resultados deste início de ano ligaram o alerta no setor.
A variante ômicron trouxe mais incerteza sobre o fim da pandemia de Covid-19 e certamente influenciou a queda das vendas, mas o momento econômico do país tende a ser o grande motivo da desaceleração.
O cenário atual combina juros altos, inflação, desemprego e carros mais caros. Se a bolha de consumo que movimentou o mercado em 2021 estiver prestes a se esvaziar, os problemas podem transformar a esperada retomada em um ano de queda nas vendas.
Com a eleição presidencial, o segundo semestre tende a ser comprometido. Ao mesmo tempo, é provável que questões ligadas ao fornecimento de componentes estejam equalizadas.
Os movimentos feitos pelas marcas mostram que a entrega de peças, principalmente semicondutores, está mais regular. A Volkswagen, por exemplo, vai retomar o segundo turno na fábrica de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) no dia 2 de março.
Mas as montadoras -que têm feito grandes investimentos de olho no que será o mercado a partir de 2023- podem sentir falta de consumidores justamente quando estiverem prontas para entregar seus carros sem grandes filas de espera.