Quem planeja viajar no fim do ano e pretende alugar um carro para evitar avião, ônibus ou mesmo transporte público local por causa da pandemia precisa ficar atento. As locadoras podem não ter veículos suficientes para atender a demanda esperada.
Para cortar custos durante o ápice da paralisação imposta pelo novo coronavírus, as locadoras reduziram em 8% o número de automóveis à disposição dos clientes, segundo a Abla (associação que reúnde as locadoras). No fim de 2019, a frota nacional dessas empresas era de 997 mil veículo. Agora está em torno de 916 mil.
"Passamos por um período em que as incertezas eram muito grandes. Para fazer caixa e manter a operação de pé, muitas locadoras acabaram se desfazendo de alguns carros", disse Paulo Miguel, da Abla, em evento do setor na semana passada.
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Em relatório financeiro do terceiro trimestre, Localiza e Unidas mostaram ter enxugado a frota na relação com a abril, maio e junho. A Localiza teve uma retração de 25 mil carros no período, e a Unidas, de 7 mil.
A Movida teve um crescimento de 3.011 automóveis na mesma base de comparação, mas a frota atual, de 108,7 mil carros, segue abaixo dos 110,2 mil de um ano atrás.
Com a retomada das atividades, as locadoras também voltaram às compras para repor ao menos parte da frota, mas encontraram um agravante: a demora na entrega por parte das montadoras devido ao descompasso causado na indústria automotiva pela paralisação da pandemia.
Se antes as locadoras esperavam até 30 dias para receber os carros encomendados, agora estão aguardando entre 90 e 120 dias.
"Quem for precisar de carro para o final do ano precisa se antecipar e fazer a reserva o quanto antes porque as montadoras estão com atrasos na entrega e provavelmente teremos problemas de disponibilidade de veículos", disse à Folha Paulo Miguel, presidente da Abla.
Hoje o setor de locação espera pela entrega de 150 mil veículos, mas a expectativa é que até o fim do ano sejam disponibilizados só 90 mil.
A Anfavea (entidade que representa as montadoras) disse na sexta-feira (6), em evento de divulgação de resultados das empresas associadas, que os veículos serão entregues, mas não no prazo esperado.
"No segundo trimestre, tínhamos produto, mas não tinha locadora comprando. A vida é assim. Agora temos o momento de retorno de produção. Não dá para entregar 150 mil unidades de um mês para o outro", disse Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade.
"A nossa cadeia é longa, precisamos de um planejamento melhor porque trazemos material importado. Tem esses riscos e desafios que estamos vivendo. Com certeza as locadoras serão atendidas, mas não na velocidade que elas querem. Isso faz parte do mercado", afirmou.
O resultado desse atraso já começa a ser sentido. Segundo Miguel, da Abla, a demanda está deixando pátios de locadoras vazios, principalmente em feriados. "Neste momento de pandemia, muitas pessoas deixam de utilizar o transporte público, [evitando] as aglomerações, e buscam o transporte mais individual", disse.
No fim do ano, segundo ele, o problema deve ser maior. "Aluguel nesta época já é problema em algumas praças", afirmou Miguel.
De acordo com ele, locadoras pequenas e médias, sem carros suficientes para atender a demanda, já formam até filas de espera para atender a motoristas de aplicativo. O aluguel de carros para quem trabalha com apps é comum e ajudou a engordar o caixa das locadoras nos últimos anos.
A Abla, que prevê um total de 350 mil emplacamentos neste ano, no cenário mais otimista (foram 540 mil em 2019), projeta que tal dessaranjo seja superado somente no primeiro trimestre de 2021. Até lá a expectativa é que até os preços das locações fiquem mais salgados.
O desarranjo no setor e a paralisação quase total no segundo trimestre não impediu que as locadoras fechassem as contas no azul no período da pandemia. No segundo trimestre, auge da crise, as três grandes empresas do setor tiveram resultado positivo, em parte devido às vendas de automóveis feitas no período.
No terceiro trimestre, aquelas que cortaram custos tiveram resultados ainda melhores. A Unidas registrou um lucro recorde de R$ 124,2 milhões, enquanto a Localiza teve ganhos de R$ 325 milhões, uma alta de 59% na relação com o mesmo período de 2019.
A Movida, teve uma queda de 38,2% em seus ganhos na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 37,2 milhões. Resultado inferior ao de um ano antes, mas ainda um avanço se comparado ao segundo trimestre, quando o lucro foi de R$ 2,6 milhões.