Ford, Volkswagen e Volvo Caminhões decidiram nesta quinta (19) interromper a produção em suas fábricas para evitar que a pandemia atinja seus funcionários. As paradas ocorrem por um motivo diferente do previsto. A Anfavea (associação das montadoras) temia que a falta de peças vindas da China interrompesse parte das linhas de produção.
Em nota, a entidade afira que todas as empresas associadas "estão analisando e se preparando para tomar ações de paralisação das suas fábricas no Brasil, e discutindo caso a caso com seus respectivos sindicatos".
A VW fecha suas linhas de montagem por três semanas a partir de segunda-feira (23). No dia 31, terá início o período de férias coletivas. A empresa afirma que as medidas são parte das ferramentas de flexibilização previstas em Acordo Coletivo de Trabalho.
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A empresa alemã mantém quatro fábricas no país, localizadas nas cidades paulistas de São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos, além da unidade de São José dos Pinhais (PR).
A Ford confirmou que irá interromper a produção em suas plantas na América do Sul. A empresa produz veículos em Camaçari (BA), Taubaté (SP), na unidade da Troller em Horizonte (CE) e em Pacheco, na Argentina.
A medida entra em vigor no Brasil no dia 23 de março e na Argentina, no dia 25. O objetivo é limitar a propagação da doença.
"Essa ação adicional ajudará a reduzir o risco de disseminação da Covid-19, ao mesmo tempo em que potencializa a saúde dos nossos negócios durante esse período desafiador para toda a economia", afirma, em nota, Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.
As atividades no Brasil devem ser retomadas no dia 13 de abril. Na Argentina, o retorno está previsto para o dia 6 de abril.
A Volvo irá interromper a fabricação de ônibus e caminhões em Curitiba por quatro semanas a partir da segunda (30). A unidade tem 3.700 funcionários e também produz motores, caixas de câmbio e cabines.
Outras montadoras também já anunciaram férias coletivas por causa dos efeitos da pandemia na economia.
Funcionários da General Motors ficarão em casa entre os dias 30 de março e 12 de abril. Em nota, a GM afirma que o objetivo é ajustar a produção à demanda atual do mercado. A paralisação é válida para todas as cinco fábricas da montadora no país. A unidade de Gravataí (RS) produz o Chevrolet Onix, carro mais vendido do Brasil.
A Mercedes-Benz estará em férias coletivas entre os dias 30 de março e 19 de abril, além de utilizar o banco de horas para dar folgas aos operários. O retorno está previsto para 22 de abril, mas a volta irá depender da situação do país, segundo a fabricante alemã. A empresa produz caminhões e ônibus em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) e automóveis em Iracemápolis (interior de SP).
Houve também demissões. A Caoa Chery desligou cerca de 50 trabalhadores da planta de Jacareí (interior de São Paulo). Em nota, a montadora diz que "a situação econômica do Brasil neste início de ano, agravada pela recente disparada do dólar, gerou uma grande e inesperada queda nas vendas do setor."
"Esta medida tem por objetivo reequilibrar a operação da empresa no país e resistir ao cenário econômico atual e previsto para os próximos meses", afirma a empresa.De acordo com a Anfavea (associação das montadoras instaladas no Brasil), negociações sobre flexibilização de jornada, paralisação de produção e relação com sindicatos têm sido feitas diretamente pelas empresas. Há 67 fábricas em 10 estados, que empregam cerca de 125 mil trabalhadores.
A crise chega quando marcas lançam novos carros nacionais de grande volume. Entre os modelos mais recentes estão o Renault Duster 2021, feito em São José dos Pinhais, e a segunda geração do Chevrolet Tracker, que deixou de vir importado do México para ser montado em São Caetano do Sul (Grande São Paulo).
A paralisação reverte as expectativas de fabricantes que planejavam fechar 2020 no azul após anos seguidos de prejuízos. Investimentos feitos pelas montadoras a partir de 2012, que ultrapassam R$ 60 bilhões, ainda não foram recuperados.
Após um primeiro bimestre de números abaixo do esperado, as vendas de março iam bem. O acumulado até terça (17) beirava a 123 mil emplacamentos, com média diária superior a 10 mil unidades. A indústria acreditava em um crescimento perto de 10% no mês em relação a fevereiro.
Embora se espere uma queda acentuada nas próximas semanas, a Fenabrave (entidade que representa os distribuidores de veículos) vai esperar o resultado de abril para rever suas previsões para 2020. O problema maior será a fuga de clientes.
De acordo com a entidade, os estoques disponíveis hoje cobrem um período de 45 a 60 dias de vendas, o que permitiria manter as entregas no próximo mês mesmo que as fábricas prolongassem seus períodos de paralisação.